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Sede de acesso

No alto do Morro da Polícia, Patrícia é uma entre os muitos moradores que sofrem com a falta de abastecimento de água

Bianca Gross

Reportagem:

Fotografia:

Nícolas Chidem

Quarta-feira é o dia mais esperado pelos moradores do Morro da Polícia. No alto dos 286 metros de altitude da comunidade é possível avistar quase toda a zona norte de Porto Alegre, o lago Guaíba e uma boa parte da zona sul da cidade. Uma vista privilegiada que encobre uma realidade oculta - a dificuldade de acesso à água. Desde que se mudou, há dois anos, Patrícia da Silva Azevedo não sabe como é ter água encanada. Ela e outros moradores da região dependem do abastecimento semanal que chega através do caminhão-pipa.

Toda quarta-feira os moradores recebem a água que usam para passar a semana

Quando o ponteiro do relógio está prestes a marcar oito e meia da manhã, o motor do caminhão tanque ecoa na lomba íngreme da comunidade. Na área de casa, Patrícia prepara a caixa d’água. Um funcionário do DMAE tira a mangueira do caminhão. O outro libera os litros de água que abastecem a casa onde mora com outras duas pessoas. Na cozinha, a moradora também se vira como pode. Ela armazena sete galões de água para garantir a bebida e a comida da semana. Quando se depara com uma coloração ou cheiro diferente, já sabe: não vai dar para consumir.

 Sem esperança alguma para melhorar a situação, Patrícia também relata a dificuldade que enfrenta na hora de realizar as atividades diárias, como lavar louça. Para isso, é preciso ir até a caixa d’água, na área de serviço, encher uma bacia e levar até a

pia. Mesmo com tanto cuidado para economizar ao máximo, nem sempre a água dura até a semana seguinte, quando recebe novamente o abastecimento. Quando a água acaba, o jeito é recorrer aos vizinhos que moram na parte mais abaixo do morro ou comprar água mineral no mercado da esquina. “Mas não é sempre que eu tenho dinheiro para comprar”.

A casa de Patrícia é apenas uma das muitas que ainda dependem de um caminhão-pipa para receber água. Segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Rio Grande do Sul é o 14º estado do Brasil no ranking de distribuição de água por esse meio.

 

Patrícia não sabe quando, nem como, vai ver a água escorrer pela torneira, mas tem uma certeza - ela sonha com esse dia.

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